Muitas vezes tratamos o jogo de amanhã entre Botafogo e Criciúma
como o mais importante do ano. Longe disso. O jogo de amanhã traz uma carga que
nos persegue há anos, desde a nossa última aparição na Copa Libertadores da América.
Essa carga, que se acentua a cada campanha que nos impõe a pecha de “cavalo
paraguaio”, essa carga que cresceu em 1999, no maracanazzo alvinegro, onde
120mil botafoguenses viram o título da Copa do Brasil escorrer pelos dedos,
após um insípido 0x0 contra o modesto Juventude-RS, essa carga que nos
assombrou em 2007, no escândalo da “pior arbitragem da história” protagonizada
pela bandeirinha Ana Paula em uma semi-final da mesma copa do Brasil, dessa vez
contra o Figueirense.
São quase 20 anos de insucessos em competições nacionais e
internacionais (afinal, como esquecer o vexame protagonizado pela mesma equipe
de 2007 ante um indefeso River Plate pela copa Sulamericana, quando o time foi
recepcionado pela torcida no aeroporto com uma chuva de pipocas, em alusão ao
comportamento displicente de alguns no jogo do Monumental de Nuñes). Desde
nosso triunfo de 1995, nos mantivemos protagonistas nos estaduais (com exceção
do período entre 97 e 2006), mas a nível nacional fracassamos sempre que
testados, com o ápice da desgraça sendo atingido com o rebaixamento de 2002.
O jogo desse domingo, representa muito mais do que a chance
de voltarmos à libertadores, representa a coroação e perpetuação de um processo
de crescimento do time do Botafogo. Nossos jogadores provavelmente não fazem
ideia do peso e da responsabilidade que carregarão a campo amanhã. Tampouco a
grande mídia, que se julga capaz de criticar o comportamento de nossa torcida, sem saber do que está falando. Para compreender toda a fome que temos, não apenas
por uma vaga na Libertadores, mas por reconhecimento, por voltar a fazer
história, não basta ser graduado em jornalismo, especialista em futebol, ou o
que quer que seja. Se faz necessário ser alvinegro, ter estado na arquibancada
em grande parte dos insucessos já citados, ter sentido na pele as emoções que
sentimos, ter voltado do Maracanã, calado e triste, jurando nunca mais voltar,
mas como todo apaixonado, voltar, arrependido de ter duvidado. É preciso ter se iludido, não uma mas várias vezes,
achando que “agora vai”, que o título dessa vez não escapa, mas na hora H...
Numa semana tão importante para nós, o que se viu na mídia
foi boatos dando conta de que nosso técnico iria para o Santos, nosso craque supostamente
se oferecera ao Fla e que o nosso planejamento para o próximo ano prevê uma
disputa de Libertadores para a qual não nos classificamos de véspera. Chamo a
atenção, portanto, ao que realmente devemos nos preocupar, ao contrário das “mais
lidas da semana”, o que de fato deveria entrar em campo (e preferencialmente,
também nas arquibancadas) seriam os quase 20 anos de fantasmas que precisaremos
exorcizar nos próximos 90 minutos.
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