sábado, 7 de dezembro de 2013

17 anos em 90 minutos

Muitas vezes tratamos o jogo de amanhã entre Botafogo e Criciúma como o mais importante do ano. Longe disso. O jogo de amanhã traz uma carga que nos persegue há anos, desde a nossa última aparição na Copa Libertadores da América. Essa carga, que se acentua a cada campanha que nos impõe a pecha de “cavalo paraguaio”, essa carga que cresceu em 1999, no maracanazzo alvinegro, onde 120mil botafoguenses viram o título da Copa do Brasil escorrer pelos dedos, após um insípido 0x0 contra o modesto Juventude-RS, essa carga que nos assombrou em 2007, no escândalo da “pior arbitragem da história” protagonizada pela bandeirinha Ana Paula em uma semi-final da mesma copa do Brasil, dessa vez contra o Figueirense.
São quase 20 anos de insucessos em competições nacionais e internacionais (afinal, como esquecer o vexame protagonizado pela mesma equipe de 2007 ante um indefeso River Plate pela copa Sulamericana, quando o time foi recepcionado pela torcida no aeroporto com uma chuva de pipocas, em alusão ao comportamento displicente de alguns no jogo do Monumental de Nuñes). Desde nosso triunfo de 1995, nos mantivemos protagonistas nos estaduais (com exceção do período entre 97 e 2006), mas a nível nacional fracassamos sempre que testados, com o ápice da desgraça sendo atingido com o rebaixamento de 2002.

O jogo desse domingo, representa muito mais do que a chance de voltarmos à libertadores, representa a coroação e perpetuação de um processo de crescimento do time do Botafogo. Nossos jogadores provavelmente não fazem ideia do peso e da responsabilidade que carregarão a campo amanhã. Tampouco a grande mídia, que se julga capaz de criticar o comportamento de nossa torcida, sem saber do que está falando. Para compreender toda a fome que temos, não apenas por uma vaga na Libertadores, mas por reconhecimento, por voltar a fazer história, não basta ser graduado em jornalismo, especialista em futebol, ou o que quer que seja. Se faz necessário ser alvinegro, ter estado na arquibancada em grande parte dos insucessos já citados, ter sentido na pele as emoções que sentimos, ter voltado do Maracanã, calado e triste, jurando nunca mais voltar, mas como todo apaixonado, voltar, arrependido de ter duvidado. É preciso ter se iludido, não uma mas várias vezes, achando que “agora vai”, que o título dessa vez não escapa, mas na hora H...


Numa semana tão importante para nós, o que se viu na mídia foi boatos dando conta de que nosso técnico iria para o Santos, nosso craque supostamente se oferecera ao Fla e que o nosso planejamento para o próximo ano prevê uma disputa de Libertadores para a qual não nos classificamos de véspera. Chamo a atenção, portanto, ao que realmente devemos nos preocupar, ao contrário das “mais lidas da semana”, o que de fato deveria entrar em campo (e preferencialmente, também nas arquibancadas) seriam os quase 20 anos de fantasmas que precisaremos exorcizar nos próximos 90 minutos. 

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